18/02/2011

OS SACRIFÍCIOS DE CRIANÇAS

Altar em Petra. Pode ver-se o lugar
onde era depositado o
coração da vítima.
O relato de Génesis 25, em que Abraão recebe a ordem de sacrificar o seu filho sobre a montanha, é uma história impressionante, que salienta a sua fidelidade a Deus e a sua confiança na libertação. Mas, ao mesmo tempo, esta história perturba. Como é que Deus podia pedir a alguém que matasse o seu próprio filho, sobretudo depois das promessas que lhe tinha feito a respeito desse mesmo filho? Hoje, sabemos que o sacrifício de crianças era uma prática corrente entre os cananeus, no meio dos quais vivia Abraão. Menções mais tardias de sacrifícios de crianças no seio da colónia cananita (fenícia) de Cartago (Norte de África) revelam que esta cerimónia se realizava sobretudo de noite, acompanhada de música que devia cobrir os gritos de dor das crianças. Os bebés eram primeiro mortos, depois lançados nos braços de bronze do deus Baal Hamon, onde um fogo devorador os esperava. Estes sacrifícios praticavam-se apenas em caso de problemas graves,
quando se tinha necessidade da ajuda divina numa epidemia ou num cerco. Às vezes, famílias ricas compravam crianças para não serem obrigadas a sacrificar a sua própria descendência.
Túmulos de crianças em Cartago.
Escavações realizadas nos lugares de sacrifício em Cartago forneceram provas desconcertantes destas práticas largamente espalhadas. Foi encontrado um grande número de pequenas urnas contendo ossos queimados de crianças sacrificadas. Numa dessas escavações forma descobertas 40 urnas desse tipo, num espaço de 4 metro quadrados. Continham não só ossos, mas também pequenos objectos esculpidos em osso e pérolas como recordação do amor dos pais. Se pusermos a hipótese de que essas urnas se encontram em toda a superfície do lugar dos sacrifícios, isso significaria que cerca de 2 milhões de urnas aí foram depositadas durante um período de 400 anos!
Figura de uma criança esculpida
no próprio túmulo.
Foram postos a descoberto monumentos que mencionavam o nome dos pais que ofereciam o sacrifício. Uma análise dessas ossadas levou à conclusão de que a idade das crianças sacrificadas variava de 0 a 4 anos; a maior parte das crianças tinha menos de 18 meses. Até foram encontrados alguns fetos.
Não é difícil de compreender por que razão Deus proibiu estas práticas horríveis aos israelitas, vindos do Egipto e que estavam a instalar-se em Canaã. Havia um risco real de se deixarem seduzir por este costume cananeu, sobretudo em tempos de adversidade. Embora Abraão não quisesse sacrificar o seu filho Isaque da mesma maneira que faziam os fenícios de Cartago, as escavações permitiram obter informações úteis sobre esta prática.
Deus não permitiu que Abraão concretizasse o sacrifício. No entanto, ele viveu numa região e numa época em que essa prática era corrente.

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