12/11/2010

O REINO DIVIDIDO: UMA RELIGIÃO HERÉTICA

Ruínas de Arade
Estas construções heréticas foram desaprovadas por dois profetas: um, que ficou anónimo, é mencionado em 1ª Reis 13; o outro é o profeta Amos. Ambos se pronunciaram contra o altar de Betel em termos inequívocos. Estes profetas, como muitos outros, condenaram os numerosos lugares sagrados alternativos situados um pouco por toda a parte em Israel e em Judá. Foram encontrados muitos desses lugares, sobretudo em Judá.
Descobertas em Arade.
Perto das fortificações de Arade, destinadas a proteger a fronteira Sul de Judá no tempo dos reis, foi descoberto um templo. Estava situado num dos ângulos da fortaleza. Uma porta dava acesso ao pátio do templo. No meio desse pátio encontrava-se um altar cujas dimensões correspondiam exactamente às dimensões do altar do tabernáculo (Êxodo 27.1). Foi construído em pedras não trabalhadas, como estava ordenado em Êxodo 20:25. E ficam por aqui as semelhanças com o templo oficial. Quando se entrava no “lugar santo”, era notória a sua forma rectangular. Mas estava orientado em largura e não em comprimento, como era o caso do tabernáculo e no templo de Salomão. Tinham sido colocados bancos ao longo das paredes e, na parede em frente da entrada, podia ver-se um grande nicho elevado, que correspondia ao “santo dos santos”. Este nicho não formava uma divisão à parte do resto do templo. Talvez houvesse uma cortina a protegê-lo, como no tabernáculo. Os degraus da escadaria que levava a este nicho são semelhantes aos degraus que davam acesso ao santo dos santos no templo de Salomão.
Vestígios do templo de Arade.
No cimo dos degraus, tinham sido colocados dois altares de incenso, sobres os quais foram encontrados restos de incenso. Atrás destes altares, encontrava-se a parte mais sagrada do templo. Foram aí encontradas muitas pedras altas, cujo significado exacto ainda desconhecemos. Certos arqueólogos sugerem que se tratava de monumentos que comemoravam uma aliança ou um pacto entre tribos de Judá e as tribos nómadas do Sul, como os queneus (1 Samuel 15:6). O arqueólogo qe efectuou as escavações pensa que este templo foi abandonado quando o rei Josias fez as suas reformas, mas os argumentos de que ele dispõe são bastantes fracos. É muito possível que este santuário tenha sido mantido em funcionamento até à destruição de Judá pelos babilónios. A destruição também poderia ser devida à invasão de Senaqueribe, o monarca assírio que sitiou Jerusalém por volta de 700 a.C.

Altar com quatro pontas
semelhantes a chifres, encontrado em Berseba
Um altar em Berseba.
Em Berseba, o centro urbano mais importante do deserto do Neguev, os arqueólogos encontraram um grande altar com chifres, construído em pedras cuidadosamente trabalhadas (em contradição com as directivas de Êxodo 20:25!). as pedras do altar tinha sido incorporadas na parede de alguns silos, construídos no século VIII a.C. Quando se reconstruiu o altar, descobriu-se que havia pontas salientes, semelhantes a chifres, a ornamentar os quatro cantos, como sucedia no altar de Jerusalém. No entanto, num dos lados, estava gravada a imagem de uma serpente. Embora os judeus tivessem tendência a venerar a serpente que Moisés tinha levantado no deserto, esta era, acima de tudo, um símbolo vulgarmente adorado pelos cananeus. A serpente estava ligada à vida eterna, já que, todos os anos, ela se libertava da sua pele para se tornar uma nova criatura.
Divindades cananeias descobertas
em Megido.
Não foi encontrado nenhum templo em Berseba. Este altar é, portanto, um elemento importante que sugere a existência de um culto herético neste lugar. Isso confirma as mensagens do profeta Amos que condenava essas práticas. O facto de as pedras serem reutilizadas para construir as paredes dos silos que datam do século VIII a.C. pode ser um indício que demonstra que o altar foi destruído na altura da reforma religiosa. Assim se conformaria a existência de um clima religioso instável como o que é descrito nos livros de Samuel e de Reis.
Instruções a Sul do Neguev.
Na zona Sul do deserto do Neguev foram descobertos os restos de uma fortificação israelita datada do século VIII a.C. As escavações permitiriam fazer algumas das descobertas mais espectaculares relativas à época dos reis de Judá. Como tinha acontecido em Arade, um templo foi incorporado na fortaleza. Mas, ao contrário do santuário encontrado em Arade, as paredes tinham sido rebocadas e cobertas de inscrições gravadas. Essas inscrições hebraicas encontradas até esse momento. A maior parte delas mencionam votos e súplicas de viajantes que visitavam o santuário. Textos em fenício mencionam o nome dos deuses cananeus (fenícios). Isso sugere que havia uma amálgama de religiões praticadas neste santuário. A inscrição mais intrigante está em hebraico: trata-se de uma oração que invoca a bênção de Jeová, o Deus de Israel. Uma outra frase é extremamente interessante. “E a sua Astarote.” Astarote era o nome de uma deusa que é mencionada muitas vezes nos textos de Ugarit e que teve um papel importante no culto a Baal, tal como este foi praticado por muitos israelitas (Juízes 6). No entanto, é a primeira vez e o nome desta deusa aparece ligado a Jeová. Astarote era a deusa mãe e o símbolo da fertilidade. Tudo leva a crer que certos grupos israelitas acreditavam que Deus tinha uma esposa!
Este texto, bem como a utilização deste santuário pelos fenícios, são indícios fortes que indicam que este santuário fazia parte de um sistema religioso em que os elementos do culto a Jeová estavam misturados com elementos do paganismo cananeu. Ao serem analisados todos os dados religiosos descobertos pelos arqueólogos ao longo dos anos de escavações em Israel e em Judá, chaga-se à conclusão de que os vestígios de cultos idólatras são mais numerosos do que os do culto ortodoxo! Por isso, não é de estranhar que os profetas voltem com tanta frequência à carga condenando a idolatria do povo. A arqueologia vem confirmar os erros espirituais do povo denunciados pelos profetas.

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