13/10/2009

BABEL: O PRIMEIRO CENTRO ECUMÉNICO

Cada cidade-estado da Suméria era governada por um patesi que seria ao mesmo tempo o supremo sacerdote e chefe militar absoluto. Os deuses regionais eram os proprietários de todas as terras a quem os homens deveriam servir, sendo as cidades as suas cidades terrenas. Qualquer cidade digna deste nome, deveria construir um templo ao deus patrono, este tornava-se o centro da cidade. Estes templos eram construídos em forma de pirâmide e eram chamados zigurates. Eram construções de tijolos maciços, eram o santuário de adoração e o lugar por excelência para o deus habitar, visitar o povo e derramar as suas bênçãos ou maldições.Os templos ou zigurates eram para os sumérios a ligação entre o céu e a terra. Provavelmente, o sonho de Jacó visualizando uma escadaria que vinha do céu em direcção à Terra, tenha relação directa com essa imagem cultural ainda presente na sua época (Gén. 28:10-22).Diferentes dos egípcios, os governantes da Mesopotâmia, salvo raras excepções, não eram tidos como deuses, mas eram considerados os seus representantes e intermediários. Facto que lhes concedia grande supremacia sobre o povo, era vista de algum modo que a autoridade que exerciam era divina e não podia ser posta em causa. Ninrode viu nesta "política divina" a oportunidade de unificar politicamente a região e ter o controle sobre as cidades-estados que viviam em constantes conflitos. Ao apresentar-se pela sua sabedoria e força como líder estabeleceu que estas fluíam não só de todos os deuses das regiões da terra, as também do Deus do céu. Foi por isso que ele empreendeu o maior projecto arquitectónico de todos os tempos: construir o mais gigantesco de todos os zigurates, a torre de Babel.O nome do edifício foi escrito a dedo. Babel (que os hebreus propositadamente chamavam Bavel, "confusão") vem do acadiano bab-ilu que quer dizer "portal de Deus". Com isso os seus construtores queriam dizer que, enquanto os deuses menores usavam os zigurates locais para se comunicar com o povo, o chefe dos deuses (Anu ou Enlil) usava o zigurate de Babel para descer a Terra. Portanto todos os povos deveriam estar ali para adora-lo, mesmo que fossem devotos de outro deus local. Babel era o local de principal convergência dos deuses e dos povos. Era o testemunho da fraternidade “ecuménica” que traria paz, prosperidade e dessa unidade resultaria uma terra mais fértil. Em 1872, George Smith descobriu um tablete cuneiforme que trazia o seguinte relato acerca da edificação de um zigurate que provavelmente poderia ter sido a torre de Babel:"A Edificação desta torre ofendeu a todos os deuses. Numa noite eles [deitaram abaixo] o que homem havia construído e impediram o seu progresso. Eles [os construtores] foram espalhados e sua língua se tornou estranha."Novamente a arqueologia encontrou uma evidência do relato bíblico, dessa vez da confusão de línguas ocorridas em Babel. Um outro fragmento de tablete foi encontrado posteriormente, contendo 27 linhas. O texto é uma carta endereçada ao "senhor de Arrata". O remetente desconhecido solicita ao rei que lhe permita ser seu vassalo, pois os tempos estavam muito difíceis. Ele, então, relembra ao monarca que houve uma era de ouro na Mesopotâmia em que havia "harmonia nos idiomas da Suméria" e "todo o universo, em uníssono [adorava] a Enlil numa só língua..."Actualmente, vários zigurates parcialmente preservados foram localizados na região do Iraque. Muitos deles datam de mais de 2.000 anos antes de Cristo e podem ter sido construídos nos dias de Ninrode. Difícil é saber se algum deles é, porventura, o que restou da torre de Babel. Mas, de qualquer forma, é interessante observar que os seus tijolos são queimados e colados com betume, justamente como a Bíblia descreve o processo de construção da torre em Génesis 11:3.
Segundo a Bíblia, o reinado de Nimrod incluía as cidades de Babel, Arac (Araque), Acad e Calene (Calné), todas na terra de Sinear ou Senaar (Génesis 10:10). Foi, provavelmente, sob o seu comando que se iniciou a construção de Babel e da sua torre. Tal conclusão está de acordo com o conceito judaico tradicional.
Sobre este homem, Josefo escreveu: "Pouco a pouco, transformou o estado de coisas numa tirania, sustentando que a única maneira de afastar os homens do temor a Deus era fazê-los continuamente dependentes do seu próprio poder. Ele ameaçou vingar-se de Deus, se Este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados. O povo estava ansioso de seguir este conselho, achando ser escravidão submeter-se a Deus; de modo que empreenderam construir a torre [...] e ela subiu com rapidez além de todas as expectativas." — Jewish Antiquities (Antiguidades Judaicas), I, 114, 115 (iv, 2, 3)

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