03/08/2009

INTRODUÇÃO À ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A palavra arqueologia vem de duas palavras gregas, "archaios" e "logos", que significam literalmente “um estudo das coisas antigas”. No entanto, o termo aplica-se, hoje, ao estudo de materiais escavados pertencentes a eras anteriores. A arqueologia bíblica pode ser definida como um exame de artefatos antigos outrora perdidos e hoje recuperados e que se relacionam ao estudo das Escrituras e à caracterização da vida nos tempos bíblicos.
A Natureza e o Propósito da Arqueologia Bíblica
A arqueologia é basicamente uma ciência. O conhecimento neste campo obtém-se pela observação e estudos sistemáticos, e os factos descobertos são avaliados e classificados num conjunto organizado de informações.
A arqueologia é também uma ciência composta, pois busca auxílio em muitas outras ciências, tais como a química, a antropologia e a zoologia. Naturalmente, alguns objectos de investigação arqueológica (tais como obeliscos, templos egípcios e o Partenon em Atenas) nunca estiveram desaparecidos. Outros têm sido encontrados como os manuscristo do Qunram, moedas, anforas, tabletes, pedras com escritos e um número sem fim de objectos que têm sido encontrados.
Funções da Arqueologia Bíblica
A arqueologia auxilia-nos a compreender a Bíblia. Ela revela como era a vida nos tempos bíblicos, o significado de passagens mais dificeis da Bíblia, e como as narrativas históricas e os contextos bíblicos devem ser entendidos.
A Arqueoloia também ajuda a confirmar a exatidão de textos bíblicos e o conteúdo das Escrituras. A arqueologia bíblica tem revelado algu

mas teorias incorrectas de interpretação da Bíblia. Tem auxiliado a estabelecer a exactidão dos originais gregos e hebraicos e a demonstrar que o texto bíblico foi transmitido com um alto grau de exatidão. Tem confirmado muitas passagens das Escrituras, como, por exemplo, afirmações sobre numerosos reis e as narrativa dos patriarcas.


Não se deve ser dogmático, todavia, em declarações sobre as confirmações da arqueologia, pois ela também cria vários problemas para o estudante da Bíblia. Por exemplo: relatos recuperados na Babilónia e da Suméria que descrevem a criação e o dilúvio de modo notavelmente semelhante ao relato bíblico deixaram perplexos os eruditos bíblicos.
A Questão de Antigas Cidades e Civilizações terem Desaparecido.
Sabemos que muitas civilizações e cidades antigas desapareceram como resultado de julgamentos de Deus. A Bíblia está repleta de tais indicações.
As cidades eram geralmente construídas em lugares de fácil defesa, onde houvesse boa quantidade de água e próximo a rotas comerciais importantes. Tais lugares eram extremamente raros no antigo Médio Oriente. Assim, se alguma catástrofe produzisse a destruição de uma cidade, a tendência era reconstruir na mesma localidade. Uma cidade podia ser amplamente destruída por um terramoto ou por uma invasão. Fome ou pestes podiam despovoar completamente uma cidade ou território.
Nesta última circunstância, os habitantes poderiam concluir que os deuses tinham lançado sobre o local uma maldição, ficando assim temerosos de voltar. Os locais de cidades abandonadas reduziam-se rapidamente a ruínas. E quando os antigos habitantes voltavam, ou novos moradores chegavam à região, o hábito normal era simplesmente aplainar as ruínas e construir uma nova cidade. Formava-se, assim, pequenos morros ou taludes, chamados de tell, com muitas camadas sobrepostas. Às vezes, o suprimento de água esgotava-se, rios mudavam de curso, vias comerciais eram redirecionadas ou os ventos da política sopravam noutra direção - o que resultava no permanente abandono de um local.
A Escavação de um Sítio Arqueológico
O arqueólogo bíblico pode dedicar-se à escavação de um sítio arqueológico por várias razões. Se a zona que ele for estudar reconhecidamente cobrir uma localidade bíblica, o mais certo é que ele procure descobrir as camadas de ocupações relativas à narrativa bíblica. Ele pode estar à procura de uma cidade que se sabe ter existido mas ainda não foi de facto identificada. Talvez procure resolver dúvidas relacionadas à proposta identificação de um sítio arqueológico. Possivelmente estará à procura de informações concernentes a personagens ou factos da história bíblica que o ajudarão a esclarecer a narrativa bíblica.
Uma vez que o arqueólogo tenha escolhido o local de busca, e tenha feito os acordos necessários (incluindo autorizações governamentais, financiamento, equipamento e pessoal), ele estará pronto para começar a operação. Uma exploração cuidadosa da superfície é normalmente realizada em primeiro lugar, visando saber o que for possível através de pedaços de cerâmica ou outros artefactos aí encontrados, verificar se certa configuração de solo denota a presença dos resto de alguma edificação, ou descobrir algo da história daquele local. Faz-se, em seguida, um mapa do contorno do sítio e escolhe-se o sector (ou sectores) a ser cavado durante uma sessão de escavações. Esses sectores são geralmente divididos em subsectores de um metro quadrado para facilitar a rotulação das descobertas.
A Arqueologia e o Texto da Bíblia
Embora a maioria das pessoas pense em grandes monumentos e peças de museu e em grandes feitos de reis antigos quando se faz a menção da arqueologia bíblica, cresce o conhecimento de que inscrições e manuscritos também têm uma importante contribuição ao estudo da Bíblia. Embora no passado a maior parte do trabalho arqueológico estivesse voltada para a história bíblica, hoje ela volta-se fundamentalmente para os textos da Bíblia.
O estudo intensivo de mais de 3.000 manuscritos do N.T. grego, datados a partir do II século da era cristã, tem demonstrado que o N.T. foi notavelmente bem preservado na transmissão desde o terceiro século até hoje. Nem uma doutrina foi pervertida. Westcott e Hort concluíram que apenas uma palavra em cada mil do N.T. em grego possui uma dúvida quanto à sua autenticidade.
Uma coisa é provar que o texto do N.T. foi notavelmente preservado a partir do segundo e terceiro séculos; coisa bem diferente é demonstrar que os evangelhos, por exemplo, não evoluíram até à sua forma presente ao longo dos primeiros séculos da era cristã, ou que Cristo não foi gradualmente considerado divino pela tradição cristã. Na viragem do século XX uma nova ciência surgiu e ajudou a provar que nem os Evangelhos e nem a visão cristã de Cristo sofreram evoluções até chegarem à sua forma actual. B. P. Grenfell e A. S. Hunt realizaram escavações no distrito de Fayun, no Egipto (1896-1906), e descobriram grandes quantidades de papiros, que dão início à ciência relacionada com os papiros.
Os papiros, escritos numa espécie de papel grosseiro feito com as fibras de juncos do Egipto, incluíam uma grande variedade de tópicos apresentados em várias línguas. O número de fragmentos de manuscritos que contêm porções do N.T. chega hoje a 77 papiros. Esses fragmentos ajudam a confirmar o texto geral encontrado nos manuscritos maiores, feitos de pergaminho, datados do quarto século em diante, ajudando assim a formar uma ponte mais confiável entre os manuscritos mais recentes e os originais.
O impacto da papirologia sobre os estudos bíblicos foi fenomenal. Muitos desses papiros datam dos primeiros três séculos da era cristã. Assim, é possível estabelecer o desenvolvimento da gramática nesse período, e, com base no argumento da gramática histórica, datar a composição dos livros do N.T. no primeiro século da era cristã. Na verdade, um fragmento do Evangelho de João encontrado no Egipto pode ser paleograficamente datado de aproximadamente 125 a.D.!
Descontado um certo tempo para o livro entrar em circulação, deve-se atribuir ao quarto Evangelho uma data próxima do fim do primeiro século - é exactamente isso que a tradição cristã conservadora lhe tem atribuído. Ninguém duvida que os outros três Evangelhos são um pouco anteriores ao de João. Se os livros do N.T. foram produzidos durante o primeiro século, foram escrito bem próximo dos eventos que registam e não houve tempo de ocorrer qualquer desenvolvimento evolutivo.
Todavia, a contribuição dessa massa de papiros de todo tipo não pára aí. Eles demonstram que o grego do N.T. não era um tipo de linguagem inventada pelos seus autores, como se pensava antes. Ao contrário, era, de modo geral, a língua do povo dos primeiros séculos da era cristã. Menos de 50 palavras em todo o N.T. foram da autoria ( palavras que não existima no seu tempo e que eles formularam) exclusiva dos apóstolos. Além disso, os papiros demonstraram que a gramática do N.T. grego era de boa qualidade, se julgada pelos padrões gramaticais do primeiro século, não pelos do período clássico da língua grega. Além do mais, os papiros gregos não-bíblicos ajudaram a esclarecer o significado de palavras bíblicas cujas compreensão ainda era duvidosa, e lançaram uma nova luz sobre outras que já eram bem entendidas.
Até recentemente, o manuscrito hebraico do A.T. de tamanho considerável mais antigo era datado aproximadamente do ano 900 da era cristã, e o A.T. completo era cerca de um século mais recente. Então, no Outono de 1948, o mundo religioso e académico foram sacudidos com o anúncio de que um antigo manuscrito de Isaías fora encontrado numa caverna próxima à extremidade noroeste do mar Morto. Desde então um total de 11 cavernas da região foram estudados e revelados ao mundo os seus tesouros de rolos e fragmentos. Dezenas de milhares de fragmentos de couro e alguns de papiro forma ali recuperados.
Não só material bíblico aí foi encontrado, foi também de carácter religioso e social ou cultura. Todos os livros do A.T., excepto Ester, estão representados nas descobertas. Como se poderia esperar, fragmentos dos livros mais frequentemente citados no N.T. também são mais comuns no Qumran (o local das descobertas). Esses livros são Deuteronómio, Isaías e Salmos. Os rolos dos livros bíblicos que ficaram melhor preservados e têm maior extensão são dois de Isaías, um de Salmos e um de Levítico.
O significado dos Manuscritos do Mar Morto é tremendo. Eles fizeram recuar em mais de mil anos a história do texto do A.T. (depois de muito debate, a data dos manuscritos de Qumran foi estabelecida como os primeiros séculos a.C e a.D.). Eles oferecem abundante material crítico para pesquisa no A.T., comparável ao de que já dispunham há muito tempo os estudiosos do N.T.
Veja todas as fotos que apresentamos (neste blogue) do Qunram, são expectaculares e emocionantes!